Cuidado com as crianças é desafio para quem recebe migrantes venezuelanos em Roraima

Cuidado com as crianças é desafio para quem recebe migrantes venezuelanos em Roraima

Publicado em 25/06/2017 15:25 Por Maíra Heinen, Enviada Especial da EBC - Boa Vista

Na zona oeste de Boa Vista (RR) várias crianças brincam no ginásio do Bairro Pintolândia, uma cena corriqueira se o ginásio não fosse o lar temporário desses pequenos venezuelanos.


Correndo entre colchões, malas e pedaços de papelão, muitos ainda não entendem porque estão acomodados ali. Sequer sabem que são imigrantes.

As crianças representam a metade do número total dos migrantes refugiados de todo o mundo, segundo os últimos dados da Agência da ONU para Refugiados (Acnur). Também são as mais vulneráveis no processo migratório e precisam da ajuda dos adultos para a adaptação.


É o que explica a diretora da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Amazonas, Iolete Ribeiro.


“Para criança já tem uma natureza especial, porque o adulto já tem recurso para poder entender o que o levou a migrar e os desafios que ele pode enfrentar. A criança já não tem esse mesmo nível de informação e de condição de entender isso. Então ela precisa da mediação dos adultos”, disse a diretora.


Os pequenos migrantes venezuelanos chegam ao Brasil fugindo da crise político-econômica que afeta o país vizinho.


Segundo o professor de relações internacionais, Gustavo Simões, da Universidade Federal de Roraima, ainda não é possível categorizar a migração venezuelana como majoritariamente familiar. Há famílias, mas há também homens solteiros e jovens casais.


Porém, quando se fala da migração de indígenas venezuelanos, o que se vê são famílias inteiras. E as crianças representam uma parcela importante deste grupo.


“Esses indígenas, a gente vê que é uma migração quase que majoritariamente de família. Ou seja, todas as famílias estão migrando, com crianças, mães, até idosos e tudo mais”.


No Centro de Referência ao Imigrante, no ginásio do Bairro Pintolândia, só neste mês de junho, há 240 abrigados: 205 são indígenas Warao e, destes, 79 são crianças.


Em Pacaraima, cidade que faz fronteira com a Venezuela e está à 215 quilômetros de Boa Vista, há outros tantos acampados ao lado da rodoviária, morando de favor ou ainda em casas alugadas.


A ânsia de ver os filhos com o mínimo de condições de vida é o que move muitos que chegam ao Brasil. Quando percebeu que a filha estava ficando desnutrida, a venezuelana Maria Celeste Celicato decidiu migrar.


“Eu não conseguia comprar comida, porque não havia comida. Minha filha, em um mês, emagreceu cinco quilos. O médico falou que ela estava já em etapa de desnutrição e eu decidi vir para cá, com ela. Eu deixei minhas casas, minhas coisas, porque ela tinha que comer”, contou Maria Celeste.


Assim como Maria Celeste, desde meados do ano passado, cerca de 30 mil venezuelanos ingressaram no Brasil por Roraima, segundo estimativa do governo estadual. Ao todo, de acordo com a Acnur, mais de 34 mil venezuelanos deixaram o país em 2016. Situação que, segundo especialistas, ainda está longe do fim.

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