Moradores de Mariana relatam problemas de saúde dois anos após o desastre ambiental

Moradores relatam problemas de saúde dois anos após o desastre

Publicado em 03/11/2017 12:53 Por Sumaia Vilela - Mariana (MG)

Sonora “Lá em paracatu meu pai tinha a vida normal. Ele pescava, ia no bar para jogar baralho. E depois que veio para aqui meu pai ficou muito dentro de casa. E afastou ele da gente, proque a Samarco não arrumou casa perto. Ele foi ficando muito sozinho, foi ficando triste, doente. Ele ficou depressivo e... acabou falecendo”.


O relato é de Leonídia Gonçalves, de 46 anos, moradora de Paracatu de Baixo, distrito de Mariana, Minas Gerais. Um dos locais soterrados pelo rejeito da Barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco.


Os moradores foram instalados em casas alugadas e mobiliadas na cidade. Seu pai, Alexandre, morreu no dia 5 de março deste ano, vítima de infarto fulminante. Leonídia afirma que a depressão agravou os problemas de saúde que levaram à morte.

Dois anos depois da tragédia de Mariana, que deixou 19 mortos, a lama ainda soterra a vida dos atingidos. A espera pelo reassentamento e a mudança brusca de vida se transformam em depressão nas comunidades. E algumas pessoas não viveram para testemunhar as mudanças que ainda estão por vir. São os novos mortos da tragédia de Mariana.

Embora a Comissão de Atingidos da Barragem de Fundão não tenha um levantamento, os participantes contam que esse não é o único caso de depressão e morte pós-desastre. Medo de sair de casa, tristeza profunda e esquecimento são alguns dos sintomas. Como no caso de Marino D'ângelo Júnior, de 47 anos, morador de Paracatu de Cima e membro da Comissão de Atingidos.

Existe ainda o sofrimento causado pelo preconceito. A Samarco move a economia da cidade. Com a paralisação das atividadades desde o dia da tragédia até agora, o desemprego em Mariana passou de 20%. Mais de 80% da receita do município vem da mineração. Luzia Nazaré Mota Queiroz, de 52 anos, moradora de Paracatu de Baixo, trabalhava em uma loja de noivas da cidade antes da tragédia. Ela saiu do emprego porque não aguentava mais ouvir comentários de clientes.

A Fundação Renova foi criada depois, de acordo com o Ministério Público, para cumprir as ações de reparação e compensação dos estragos provocados pelo rompimento de Fundão.

Ela é financiada pela Samarco e orientada por um Comitê composto por órgãos públicos e sociedade civil. Segundo Albanita Roberta de Lima, líder do Programa de Saúde e Bem Estar Social da instituição, será realizado um estudo para levantar casos de pessoas atingidas que estão em depressão. Além disso, uma equipe, de médicos a psiquiatras, foi contratada para atender a população desde o início.

O promotor do Ministério Público de Minas Gerais, Guilherme Meneghin, atua para garantir os direitos dos moradores de Mariana. Ele diz que existe uma complexidade na questão, por não existir a causa de morte por depressão, mas confirma que os casos de sofrimento mental são comuns. Não só pelo trauma que viveram há 2 anos, mas pelos processos de negociação das reparações às vítimas.

De acordo com o promotor Guilherme Meneghin, é possível atuar na área cível, cobrando danos morais pelo sofrimento. Até agora, os custos com velório e o enterro do pai de Leonídia foram da família. Segundo ela, nunca receberam uma ligação para prestar homenagem a Alexandre. Mas a agricultora diz que só tem um desejo...


No domingo, 5 de novembro, aniversário de dois anos da tragédia de Mariana, Leonídia passará o dia nos escombros de Paracatu, recordando os oito meses do pai falecido depois de enfrentar a depressão.

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